Alimentação – a falta dela
Hoje vamos falar sobre uma solicitação comum feita durante a consulta pediátrica : “Dra, meu filho não come; você pode passar um remédio para aumentar o apetite?”
E a frustração quando digo que NÃO é necessário, é evidente!
Há MUITOS ANOS os fortificantes (as famosas medicações que “aumentam” o apetite) têm o SUPOSTO poder de fazer milagres. Não é necessária receita médica para sua compra, o que infelizmente facilita seu consumo indiscriminado.
Porém, ao contrário do que se pensa, eles não são substâncias isentas de riscos (assim como qualquer medicação ) e podem provocar efeitos colaterais se ingeridos sem necessidade!
Na verdade, essas medicações funcionam como estimulante de apetite APENAS se a causa da inapetência for por alguma deficiência de nutrientes. Por exemplo: crianças que tem anemia ferropriva (aquela que ocorre devido deficiência de ferro) podem se beneficiar.
A ingestão de ferro corrige a deficiência , e como consequência , o apetite volta ao normal! Porém, está reposição sempre deve ser orientada pelo pediatra, com as medicações CORRETAS, assim como a dosagem (lembrar que crianças não são “adultos em miniaturas”, portanto as doses não são únicas – há a necessidade do cálculo de forma individual!). NUNCA AUTOMEDICAR-SE (leia- se: nunca ofereca medicações para seu filho sem indicação!).
Temos que lembrar que a expectativa dos pais quanto à quantidade de comer dos filhos nem sempre refletem a realidade das necessidades individuais de cada criança.
Em uma grande parte das famílias espera-se que o volume de cada refeição se assimilará ao de um adulto (principalmente durante a introdução alimentar – há um desespero generalizado nesta faixa etária quando as crianças comem 2 a 3 colheres – sendo que está é a quantidade inicial e ideal que deve se oferecida, apresentando um aumento progressivo ao longo do crescimento da criança).
É preciso analisar a evolução do crescimento e o ganho de peso INDIVIDUALMENTE nas consultas pediátricas , além do auxílio de tabelas e gráficos , para avaliar se realmente a queixa de “ele não come” está repercutindo no desenvolvimento da criança. Se a criança come “pouco” , porém , ganha peso e cresce , não há motivo para alarde e desespero!
Temos que lembrar também que o apetite pode variar de acordo com alguns aspectos:
- clima (geralmente no calor não sentimos tanta fome;
- já no inverno ou nos dias frios, ela se intensifica)
- infecções (é fisiológica a redução de apetite nestes casos)
- gostos individuais
- gastos energéticos (crianças que praticam atividade física, por exemplo, têm a tendência de ingerir um volume maior de alimentos )
- distúrbios alimentares (os extremos como anorexia ou compulsão alimentar podem influenciar no apetite das crianças)
A a idade também influencia, já que crianças a partir de 2 anos até a adolescência, proporcionalmente falando, não tem o crescimento tão acelerado quanto no primeiro ano de vida, o que leva a uma redução natural de apetite ( já imaginou, se mensalmente as crianças permanecessem ganhando uma média de 800g ao mês, qual seria o peso ao atingir essa idade?).
É o que eu sempre falo: a criança precisa aprender a comer! Muitas vezes é necessária uma reeducação alimentar , pois as crianças aceitam alimentos industrializados no geral, mas deixam de ingerir alimentos saudáveis como verduras e legumes , daí a preocupação do “meu filho não come”.
Em alguns casos, o auxílio de uma equipe multidisciplinar composta de nutricionista , psicólogo e pediatra pode resolver os casos de seletividade alimentar!
Um beijo,
Dra Beatriz Romão Amatto – CRM 181.573 / RQE 82.740 – Médica Pediatra – Instagram @drabeatrizamatto